Entramos no elevador com alguém com quem não temos muita confiança e surge AQUELE silêncio.
O que nos sai primeiro dos lábios? Falar do tempo? Perguntar pelos filhos? Discutir a situação política nacional? Ou simplesmente ficar em silêncio?
Há quem lhe chame conversa fiada. Há quem fuja dela a sete pés. Em jantares, casamentos, encontros casuais na rua. Ou até, quem sabe, com pessoas que vemos todos os dias mas com quem não sabemos sobre que falar.
Nas sessões de Coaching de Diálogo que faço e também no dia-a-dia conheço pessoas que me dizem não saber como fazer conversa de circunstância. Para algumas chega mesmo a ser uma profunda angústia, que vai variando de intensidade de pessoa para pessoa. Pedem-me técnicas e frases feitas para como sobreviver àqueles 5, 10 ou 15 minutos de conversa. Bate papo.
Nos meus cursos de inglês lá surge a mesma dúvida “Ana, se eu não sei fazer conversa de circunstância em português, muito menos em inglês. Como faço para conseguir uma boa dose de small talk”?
Por norma não acredito em técnicas, fórmulas. Em termos do coaching que faço, o chamado Coaching Focado em Soluções, o objectivo será sempre a pessoa descobrir as suas ferramentas interiores que lhe permitem sem dúvida resolver o seu impasse. E não ser eu a dar-lhe a resposta.
Na realidade, explico-vos aqui o que penso ser a única forma de vencer esta angústia e tornar a conversa de circunstância num momento que aguardamos com alegria.
Aos 17/18 anos entrei numa profunda depressão por inúmeras razões. Na altura, uma das questões que me eram tão difíceis por não estar preparada para o confronto com a idade adulta, era o facto de não conseguir manter uma conversa de circunstância. Tudo na minha vida tinha de ser verdadeiramente profundo, intenso e analítico. O meu psiquiatra encorajou-me a tentar conversas mais leves.
Não fazia ideia como o fazer mas fui tentando. E aprendendo a desfrutar de curtas conversas nos meus sete anos a viver em Inglaterra e depois de regresso a Portugal. Até que, ao conhecer o Budismo de Nichiren Daishonin, despertei para a solução que ia à raíz da questão: interessar-me verdadeiramente pela pessoa que está a minha frente.
Aqui acredito estar a chave. Recuso técnicas, táticas ou frases feitas. Seja em dois minutos ou vinte, quero saber como está cada pessoa. E quando não quero, não tenho de fingir. A minha pergunta para mim mesma, sem qualquer formalismo, é sempre, “qual é a minha verdadeira intenção com as pessoas?” ou ainda “o que aqui ando a fazer?”
Acredito ainda que a angústia vem de uma separação que nos afasta uns dos outros, em que não nos sentimos ligados. Não é preciso viver assim.
O que funciona para si? Ou o que não funciona?