“Não sei falar inglês”

Cada aluno é um caso único. Ainda assim, ano após ano, há dificuldades e ansiedades que se repetem.

 

Os cursos de inglês English for Life querem dar resposta a uma angústia comum: “Não sei falar inglês”. Como seres complexos que somos, isto manifesta-se de inúmeras formas. Aqui ficam algumas que tanto me têm ensinado ao longo dos anos.

 

Ser professora/ formadora/coach é uma oportunidade muito especial de olharmos para todas as pessoas à vossa frente e de vermos claramente a nossa própria vida. As nossas contradições, alegrias, medos, desculpas, desejos e vitórias. Pessoalmente tem-me ajudado a ser muito, mas MUITO menos dura comigo.

 

Assisto quase todos os dias a uma exigência desmesurada que os alunos têm para consigo mesmos. Talvez porque aprender uma língua nova envolve uma exposição tão profunda perante os outros. Exige coragem. Exige errar muito. Exige divertir-se com o erro. E que dificuldade todos temos com isso! A todos os alunos e formandos quero agradecer eu estar a mudar este aspecto da minha vida. Valorizar os meus esforços.

 

Sempre que começa um curso, peço aos alunos que, de aula para aula, olhemos por vezes para a frente no tempo ⇒ e muitas vezes para trás ↵ . Para trás porquê? Porque quero que se possam comparar com aquilo que eram e sabiam uma, duas, três semanas ou meses antes. E que assim possam SABOREAR os esforços fenomenais que fazem para estarem presentes e se desafiarem.

 

E esta batalha é constante.

 

Dá entrada agora a Sofia. E a Maria (todos os nomes que são aqui referidos são fictícios). 

 

A Sofia é nova no grupo e apresenta-se dizendo que o seu inglês não é bom. Que nem nos consegue entender quando falamos. E di-lo em inglês. O resto do grupo partilha as suas experiências de como haviam sido as suas primeiras aulas e soltam risos generalizados por percebermos que estamos todos no mesmo barco. Ufff.

 

Ah, a Maria chegou atrasada. Para ela, por questões pessoais é sempre difícil chegar a horas. Tem um desafio extra mas esforça-se sempre e o resto do grupo valoriza muito o facto de conseguir. A Maria entra na sala quando a Sofia está quase no final da sua partilha. À distância não distingue bem o tema da conversa mas entra a dizer em inglês “ai, esta aluna nova fala tão melhor que eu”. Sinceramente não pude deixar de me rir. Todas rimos. Acabada de dizer mal do seu inglês, a Sofia ouve outra pessoa dizer como ela fala bem. Surgiu aqui a oportunidade para mais um belo tema de conversa: as comparações. 

 

Rui ligou-me a dizer que não sabia falar inglês. Marcámos um teste de nível e, quando começou a falar, era quase nativo. Mesmo. Enquanto ele falava, eu pensava “o que será que está aqui a fazer?” Perguntei-lhe: “Porque precisa de aulas de inglês?” Ele responde-me que, quando está numa situação no dia em dia em que tem de falar inglês, bloqueia. Segundo ele, já é tímido em português, quanto mais em inglês. Faz o teste escrito e, em 40 perguntas, tem 39 certas. Percebemos juntos que este seria um curso sobre desafiar auto-confiança e a arte de cometer erros. De estar numa aula de conversação e não em aulas privadas, para estar com outras pessoas. 

 

E depois temos a Marta. Chegou para fazer o teste de nível a transpirar. Começámos a falar em inglês e estava em pânico. Toda a vida lhe tinham transmitido que não tinha valor. Com o inglês, este medo manifestava-se imenso. Falámos muito e hoje é um prazer ver a alegria com que aprende. A Marta adora o som do inglês e literalmente delicia-se com cada palavra sua. E as dos outros. 

 

Qual destas pessoas não “sabe falar inglês”? Uma iniciada, duas de nível intermédio e um avançado. Todos com o mesmo apego a ideias feitas e a mesma angústia. Na realidade, todos em níveis de inglês muito diferentes. A realidade está mesma na perceção. E por isso precisamos ter TANTO cuidado com o que percepcionamos sobre nós próprios. 

perception1.jpg                                   Obrigada Sofia, Maria, Marta e Rui.

Olá, sou a Ana Calha!

Sou professora de inglês há vinte e dois anos e formadora na área da comunicação há mais de onze. 

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